*Por Vincent Bleunven
CEO da Allianz Partners Brasil e LatAm
Aeroportos vazios, turistas em quarentena, passagens ora canceladas, ora remarcadas. Esta foi a fotografia do mercado de turismo em 2020. Não é exagero dizer que o segmento foi um dos mais impactados ao longo dos últimos dois anos. No entanto, de meados de 2021 até ao início de 2022, o avanço da vacinação trouxe novos ventos que começaram a soprar a favor deste setor em todo o mundo.
Mesmo diante de um cenário internacional turbulento, uma recuperação já vem sendo percebida por todos os players deste mercado, não apenas no Brasil como no mundo todo. Mas quais serão as características do turismo após a pandemia? A pandemia de Covid-19 mudou não apenas os hábitos de viagens dos clientes, mas também o comportamento e a forma como decidirão aproveitar suas férias.
Quando olhamos, de forma geral, para os viajantes de todo o mundo, é possível perceber, por exemplo, que hoje existe uma preocupação muito maior com as questões ambientais. Resultados da pesquisa realizada pelo Foresight Factory e pelo Customer Lab, do Grupo Allianz Partners, em maio deste ano, mostram que seis em cada dez famílias (60%), com idades entre 25 e 40 anos, dizem prestar mais atenção ao impacto ambiental de suas viagens no futuro, em comparação com a pré-pandemia. Além disso, mais de sete em cada dez consumidores na Grã-Bretanha, Alemanha e EUA dizem que filtros de sustentabilidade em sites de viagens os ajudariam a fazer melhores escolhas e a viver de forma mais sustentável.
Outra tendência que veio para ficar é o “Workcation”, palavra criada a partir da junção dos termos “work” (que, no inglês, significa “trabalho”) e “vacation” (que significa “férias”). Com a pandemia, muitas empresas passaram a adotar o modelo de trabalho remoto e os profissionais viram no home office uma oportunidade de explorar o mundo, sem ter que abandonar seus empregos. Ou seja, os consumidores conseguiram conciliar o turismo com o trabalho. Agora, não é preciso mais esperar as férias para viajar, muitos já conseguem fazer isso o ano todo.
Existe, inclusive, um movimento que os hotéis estão começando a fazer para atrair trabalhadores remotos por meio de pacotes de assinaturas, em vez de tarifas noturnas. Segundo a nossa pesquisa, a Geração Z, principalmente, abraça a autonomia do trabalho remoto e o estilo de vida de trabalhar em qualquer lugar.
Entrando na seara econômica, também podemos dizer que os viajantes têm sentido no bolso os impactos de um setor que ficou em crise por quase dois anos. Os preços das passagens subiram em função dos problemas na cadeia de suprimentos, que causaram o aumento dos preços do gás e de alimentos, por exemplo. Mesmo assim, este fator ainda não tem sido suficiente para intimidar os turistas pelo mundo.
A demanda por viagens segue forte para o final do ano: a partir de agosto de 2022, as reservas pré-registradas pelas agências de viagem online estão acima do que eram em 2019. Isso significa que os consumidores ainda estão dispostos a viajar, mesmo que encurtando a duração ou reduzindo a distância, para manter os custos de viagem suportáveis. Os dados são da Allianz Research em parceria com o banco de dados financeiros Refinitiv Datastream e PhocusWire.
Uma das principais mudanças de comportamento, no entanto, está no quesito segurança. No momento em que viajar se tornou uma ação de risco à saúde, o seguro viagem passou a ser uma prioridade para todos os viajantes, incluindo a procura por seguros que tenham cobertura para Covid-19. Em nossa pesquisa, identificamos que o Brasil lidera, com 57%, o ranking de famílias (entre 26 e 40 anos) que desejam comprar o seguro viagem para destinos internacionais. No mundo, esse desejo aumentou 24% em relação à última viagem.
E não é apenas em viagens internacionais que os brasileiros têm sido mais cuidadosos. De janeiro a setembro de 2022 tivemos um aumento de 61% na emissão de apólices de seguro viagem dos planos nacionais em relação ao mesmo período do ano passado. Ou seja, o seguro viagem está deixando de ser uma prioridade apenas para quem vai para fora do Brasil e passa fazer parte dos planos de viagens domésticas também. Uma mudança comportamental nunca vista pela empresa.
É evidente que o setor de turismo como um todo está em processo de retomada a passos largos. Um estudo divulgado pela Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) mostra que a expectativa é de que, até o final deste ano, os números de viagens internacionais voltem ao patamar pré-pandemia, aqui no Brasil. Os destinos mais buscados? América Latina, Europa e América do Norte, de acordo com a pesquisa.
O fato é que viajar não deixou de ser uma paixão para os consumidores. No entanto, as empresas do setor precisam estar atentas às novas exigências e fazer algumas adaptações para atender os comportamentos e costumes trazidos pela pandemia. Os turistas já estão de malas prontas, agora, as empresas precisam estar prontas para atender suas novas expectativas.