Mistério no espaço: cometa interestelar 3I/Atlas surpreende cientistas com comportamento inédito



Um visitante misterioso está cruzando o Sistema Solar — e ele veio de muito, muito longe. Descoberto em julho pelo telescópio ATLAS, da NASA, o 3I/Atlas é apenas o terceiro cometa interestelar já registrado pela ciência, ou seja, um corpo celeste que veio de fora do nosso sistema planetário. Desde então, ele tem desafiado as expectativas e intrigado astrônomos de várias partes do mundo.

O objeto viaja a uma velocidade impressionante de 221 mil quilômetros por hora e já está deixando um rastro de descobertas — e teorias — em seu caminho.


Um visitante de outro sistema estelar

Ao contrário de cometas comuns, que orbitam o Sol, o 3I/Atlas segue uma trajetória hiperbólica, o que significa que ele apenas “passa por aqui”. Dentro de alguns meses, o cometa será lançado novamente para o espaço interestelar, desaparecendo da vista dos telescópios terrestres.

Com um diâmetro estimado entre 440 metros e 5,6 quilômetros, o 3I/Atlas chamou a atenção por ser composto majoritariamente de água, algo inédito entre os cometas interestelares já observados.

“Cada um desses visitantes é uma surpresa”, afirma Zexi Xing, pesquisador da Universidade de Auburn, nos Estados Unidos. “O ʻOumuamua era seco, o Borisov tinha muito monóxido de carbono, e agora o 3I/Atlas está jorrando água em uma distância inesperada. Cada novo objeto muda o que pensávamos saber sobre como os planetas e cometas se formam em torno das estrelas.”



NASA / JPL-Caltech/Divulgação



A química da vida além do Sol

Para os astrônomos, encontrar água em um corpo interestelar é um indício poderoso. “Quando detectamos água ou até o eco ultravioleta de um cometa interestelar, estamos basicamente lendo os ingredientes de outro sistema planetário”, explica Dennis Bodewits, também da Universidade de Auburn. “Isso mostra que os blocos da vida podem estar espalhados por toda a galáxia.”

Essas observações reforçam a hipótese de que a vida, ou pelo menos os elementos que a tornam possível, pode não ser exclusiva da Terra — uma possibilidade que empolga cientistas e curiosos em igual medida.






A cauda que se inverteu

Em agosto, o 3I/Atlas voltou a surpreender: imagens do Telescópio Espacial Hubble e de observatórios nas Ilhas Canárias mostraram uma transformação drástica em sua cauda.

Inicialmente, o cometa exibia uma “anticauda”, uma espécie de jato de partículas que apontava em direção ao Sol — o oposto do comportamento esperado. Pouco tempo depois, o fenômeno desapareceu, e uma nova cauda surgiu, agora no sentido oposto, afastando-se do Sol.

Segundo os cientistas, essa mudança ocorre porque diferentes tipos de gelo reagem de maneira distinta à luz solar. Quando o cometa estava mais distante, o gelo de dióxido de carbono era o responsável por impulsionar as partículas em direção ao Sol. À medida que se aproximou, o gelo de água começou a sublimar, gerando jatos na direção contrária e restaurando o formato clássico da cauda cometária.


Fenômeno natural ou nave alienígena?

Nem mesmo o enigmático 3I/Atlas escapou das especulações. O físico Avi Loeb, de Harvard — conhecido por levantar hipóteses ousadas sobre objetos cósmicos —, sugeriu que, se o 3I/Atlas fosse uma nave alienígena, o comportamento da “anticauda” poderia representar uma manobra de desaceleração.

Loeb argumenta que o momento em que o cometa passa mais próximo do Sol seria ideal para uma suposta nave executar um impulso conhecido como efeito Oberth, usado para aumentar a eficiência em mudanças de velocidade.





Apesar da ideia excêntrica, a NASA e a maioria dos especialistas descartam a hipótese de origem artificial. Para eles, tudo indica que o 3I/Atlas é um cometa natural, embora venha de uma região ainda desconhecida da galáxia.

“Mesmo com todas as suas excentricidades, o comportamento do 3I/Atlas pode ser explicado pela física e pela química conhecidas”, escreveu Loeb em um artigo recente, reconhecendo que o mistério ainda está longe de ser completamente resolvido.


O futuro do 3I/Atlas

No momento, o cometa está oculto atrás do Sol, invisível mesmo para os telescópios mais potentes. A previsão é de que volte a ser observado no início de dezembro de 2025, quando deve atingir sua maior aproximação da Terra, a cerca de 270 milhões de quilômetros — uma distância segura, sem qualquer risco de colisão.

Essa será a última oportunidade de estudá-lo antes que ele desapareça novamente no espaço interestelar. Os astrônomos esperam que novas observações revelem mais pistas sobre sua composição e origem.

“Cada visitante como esse é uma janela para o desconhecido”, diz o pesquisador David Jewitt, do Telescópio Espacial Hubble. “O 3I/Atlas está nos mostrando que o universo ainda guarda muitos segredos — e que alguns deles passam diante de nós apenas uma vez.”




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